segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Quotidiano da missão

Quando falo com os amigos, quase sempre me perguntam “então, o que é que vocês fazem?” Calculando que mais pessoas têm esta pergunta aqui fica a resposta. Digo-vos que os nossos dias têm, nesta fase da missão, uma mistura de rotina q.b. com uma pitada semanal de aventura. Ai! Desculpem esta frase tipo receita culinária, mas é o hábito! Já vão perceber porquê.
Então vamos lá começar… prontos para se imaginarem na missão? Vamos a isso! São 6 horas, toca o telemóvel da Sónia com uma música calminha para dar o acordar. A partir desse momento há o corrupio de cada um acordar o seguinte porque só temos uma casa de banho. As primeiras tarefas do dia são pôr a mesa e preparar o “mata-bicho” para seis pessoas (já nos conhecem, não? Aqui fica para quem não sabe: P. Vítor e P. David, Sónia, Catarina, eu e o Sr. Rui, mestre de obras da ondjoyetu (nossa casa)). Está incluída uma caminhada matinal para comprar pãozinho fresco. É preciso também estarmos atentos para, quando sai água na torneira do jardim do prédio, ir reabastecer as nossas reservas caseiras (não, não temos água canalizada, temos de a transportar em baldes da torneira onde por vezes sai água, embora agora saia mais barro que água (estamos na época das chuvas pequenas), até aos baldes de 100 litros que temos em casa para a guardar). Depois do mata-bicho há a “divisão das tropas”: os senhores padres e o Sr. Rui seguem para as obras na Pedra Um e as leigas ficam em casa para, quando chegar a hora, começar a preparar o almoço quer para a comunidade aqui de casa, quer para os sete trabalhadores da obra. Eu já estive no grupo da cozinha (daí a tendência para a receita culinária do início do artigo), mas nos últimos dias tenho seguido com o grupo das obras. Lá, tenho estado a limpar os blocos com feitio que serão colocados no nosso muro de vedação, na zona dos anexos, para deixar circular o ar na zona dos tanques de lavagem da roupa. Passo o dia com a colher de pedreiro na mão, o que não foi uma grande mudança para quem deixou as colheres da cozinha. Quanto aos restantes trabalhadores da obra, vão fazendo aquilo que é preciso: marcações, alinhamentos, assentamento de blocos, feitura de estribos, armação de ferro, etc, etc… há trabalho durante todo o dia. E lá estamos das 7h30 às 12h e das 13h às 17h. A Sónia e a Catarina, que têm ficado em casa, tratam das compras necessárias para o almoço (agora já temos luz eléctrica, mas como falha muitas vezes, não podemos contar com o frigorifico para manter alimentos, e todos os dias tem de se comprar o que se pretende consumir no dia) e preparam-no. Estão mestres na preparação do funge de farinha de milho (também chamado pirão) e no feijão com óleo de palma. E a aprumar cada vez mais os seus dotes culinários! Com a base de alimentação restrita que aqui temos, têm conseguido fazer sempre variações na apresentação das refeições. Uma delícia, digo-vos! No final da tarde participamos na Eucaristia na Sé do Sumbe e depois do jantar pomos em dia outras tarefas, como as contas da missão, a preparação do próximo fim-de-semana no Gungo, a resposta a e-mails e cartas dos amigos, a leitura, a escrita, o descanso… tudo faz parte da missão! Até a caminhada que às vezes se faz na marginal para arejar. E depois de um dia preenchido como este, chega a hora do merecido descanso: 21h30. Quando passa desta hora já nos estamos a deitar tarde, mas também acontece. Então, agora só falta deitarem-se, ajeitarem o mosquiteiro para não terem visitas indesejadas, e sonharem com a missão. Não se esqueçam de sonhar também com as peripécias diárias que nos reinventam a rotina.
Nós por cá vamos vivendo dia-a-dia a sonhar com o momento em que esta missão tenha todas as condições para se concretizar plenamente… sonhamos com o dia em que ficaremos, e os que vierem depois de nós, a viver no Gungo, a trabalhar com a população para um futuro mais risonho. Como podem então perceber, mais importante do que o que fazemos na missão é sabermos que a missão está a acontecer com a nossa presença! Cá e aí!

Estamos juntos!

Vera*

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

É a missão!

Olá Amig@s!

Parece impossível, mas todas as semanas digo o mesmo… as novidades na missão não param! Há tanto a contar e tanto que ficará por dizer! :P

No fim-de-semana passado fomos até à Tuma e encontrámos muitas diferenças: todo o ambiente mais verdejante, as mangas a crescerem nas mangueiras (ai se elas estivessem maduras!! Não tinham lá ficado, de certeza!! :P ), o rio já corre da cor do chocolate e com corrente forte por causa das chuvas, o dia termina com um espectáculo indescritível e “infotografável” de trovoada à distância, e os bichos aumentam! À noite, sai gritaria das meninas porque alguma coisa se infiltrou no nosso teoricamente seguro mosquiteiro e correu junto das nossas cabeças quando eu mexi no meu cantil… agora já nos rimos, mas os nossos coraçõezitos tremeram de pânico naquele momento! Experiência que, se possível, não tenciono repetir!

No regresso ao Sumbe, passagem pela Praia de Sousa para deixar uma passageira, comprar peixe seco (que incluía o espécime que encontram comigo na foto :P é identificável? Aceito opiniões… depois revelarei o que é), e planear o “retiro de equipa” da próxima semana…

Na segunda-feira voltamos à obra da ondjoyetu. Voltei à obra para limpar os blocos com feitio que serão colocados no nosso muro de vedação, nos anexos para deixar circular o ar na zona dos tanques de lavagem da roupa. Nesse dia levei a tshirt que vêem na foto e apanhei um grande escaldão porque não pus protector solar tantas vezes quantas devia ter posto e o sol aqui queima bué! Enfim… agruras da missão! Ainda hoje me dói as costas na zona queimada! Não volto a repetir a gracinha, acreditem! E os bloquinhos que estive a limpar (por isso entende-se remover o excesso de massa de bloco que fica a tapar os buracos quando o bloco é feito), não são só dois ou três!! Estive lá na segunda, na terça, voltei na quinta e para a semana, se tudo correr bem, ainda lá estarei mais dois dias! É que são praí só uns 400! :P neste dia do meu regresso às obras quando terminei todos os blocos que havia por limpar naquele dia (porque os blocos foram sendo feitos ao longo de vários dias) ainda ajudei a encher um pilar e meio do muro :) tou a ficar preparada para ir pras obras… já não fico sem trabalho no regresso a Portugal! :)

E finalmente falta relatar-vos o ex-libris das coisas boas desta semana: o nosso retiro de equipa para a Praia de Sousa na quarta-feira. Já há mais de uma semana que tencionávamos sair um pouco daqui para fazer uma avaliação da nossa missão, e esse dia chegou. Partimos de manhã para a praia com o fogareiro e a intenção de arranjar por lá um peixinho e grelhá-lo, ou até um choquito… ambas as ideias se concretizaram. Almoçamos uma entrada de choco grelhado com arroz (levado de casa), seguido de linguado e um outro peixinho também grelhados, novamente com o mesmo arroz :P e ainda tomámos uma banhaça num mar de temperatura mais que agradável, com um sol lindo como vêem na foto… e os sorrisos só podem ser os que se vêem!! E os pescadores que conheciam o Pe. Vítor de outros tempos ofereceram-nos o que acabou por ser um belo manjar para comemorar 1 mês de obras da ondjoyetu! (para perceber é importante ver a foto dos bichos antes de irem para a panela. A mão é do Sr. Rui, no tupperware está ginguba para torrar, no frasco está sal, as garrafas do Caramulo têm albergado água da Conda, e o azeite é Gallo (“a cantar desde 1919”) :P tudo na bancada da cozinha). E para terminar a noite Portugal ainda ganha o jogo! :)

E é assim! Estamos em missão! Estamos juntos!

Tchaué!

Vera*


P.S. – Não se deixem enganar… a missão não é só o que eu vos conto nestes mails… eu conto aqui as coisas boas e bonitas e que valem a pena recordar… as que nos “roubam” os sorrisos também existem, mas ficam para o nosso regresso aí, ou melhor ainda será esquecer.

Mais fotos da missão!

Aqui vai mais uma selecção de fotos da Missão com a respectiva explicação:

(1) Já vos enviei uma foto do táxi do Gungo, aqui vai agora o táxi pedestre que encontrámos no fim-de-semana passado! Ah, que dizem?


(2) E depois da chuva, que ainda foi só de brincadeira, olhem pró nosso jipe na picada! Belo, não?


(3) Isto é o que eu faço mais nas viagens! :P mas tudo tem uma explicação! Os dias de viagem são os dias em que me levanto ainda mais cedo, normalmente 5h ou 5h30… tenho perdão, não? :P

(4) A mangueira que está mesmo ao lado da capela na Tuma… ai quando elas estiverem maduras!!
(5, 6) Estivemos na Praia de Sousa, alguns quilómetros a sul do Sumbe… com certeza um dos paraísos angolanos, onde existem um bairro como podem ver na foto, onde circulam porcos e galinhas livremente à beira-mar, e onde as crianças correm fugindo de nós e gritando “mulato”. Na foto num frente-a-frente, tentando mostrar que não mordo nem faço mal :P tentando ganhar confiança!

(7) E numa das minhas descidas pedonais da picada da Pedra Um fotografei a cidade do Sumbe. Agora já se encontra um pouco mais verde do que mostra a foto.


Isto tudo também é missão*

Estamos juntos!

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Impressões

6 de Novembro de 2006

Saio do Ondjango (espaço público da Diocese onde utilizamos a internet) onde comuniquei com o mundo (Portugal e Brasil) e percorro a pé o quilómetro que me separa de casa… às 22 horas (21 horas em Portugal e menos umas quantas no Brasil)… apesar de haverem pessoas sentadas pelos muros das casas que cruzo, e da pouca iluminação, ninguém se meteu comigo, ninguém me incomodou… só senti receio por causa de uns cães que cruzaram o meu caminho (e acreditem os cães aqui metem dó, de tão mau aspecto…) . e penso, ainda existem cidades assim? O sossego e a calma invadem-me no fim de mais um dia de missão… será que vale a pena? Sempre! Apesar de nem sempre vermos a meta para onde caminhamos.

Hoje foi um dia cheio… eu e o padre Vítor fomos até à Conda buscar 635 litros de água que se pode beber sem ferver (vem fervida do interior da terra, como ele diz… e ainda sai morna!). Foi uma viagem de 9 horas (que incluiu um reconfortante banho fervente na Tocota! Novamente não tenho fotos de lá… o local também não faz jus à situação que se lá vive). O padre David e o Sr. Rui andaram a bombar na obra, depois de se ter carregado de manhã o IFA que levará mais uma “dose” dos materiais para a reconstrução da casa da Donga… as manas Sónia e Catarina foram as donas da cozinha hoje (e são muitos a comer!!). Foi mais um dia agitado, como dizia, enquanto esperamos que se resolva a situação dos nossos vistos de residência (que nos permitirão permanecer em Angola… senão… nem queremos pensar nessa possibilidade!). E este dia seguiu-se a quatro dias de viagens: quinta-feira, ida para Luanda para tratar das questões dos vistos, sexta-feira regresso ao Sumbe, sábado ida para a Donga (primeira visita dos Sr. Rui a estas paragens para conhecer a zona e planificar os trabalhos de recuperação da casa da missão), e domingo regresso ao Sumbe! :S foi duro! Podem compreender agora porque se fecham os meus olhos e tenho de parar por aqui… amanhã há mais! (22h20)

9 de Novembro de 2006

Ontem à noite ao voltar do Ondjango, onde fomos “navegar até esses mares”, apanhei a primeira “molha” angolana… quer dizer, não foi uma verdadeira “molha” porque a distância percorrida debaixo de chuva foi curta, mas apanhei uns bons pinguitos! =)
Depois de já preparados para a camita, a ouvir a chuva lá fora a cair, pusemo-nos a imaginar que estávamos aí, no nosso sofá, com uma chávena de chocolate quente, em frente à televisão e com o aquecimento central ligado… escusava de estar regulado para uma temperatura tão alta, mas o aquecimento central daqui é natural e não regulável! :P Tanta conversa só para dizer que aqui cada vez mais apetecem as tshirts e os calções porque… ESTÁ A AQUECER! E a chover! Já estamos na estação das chuvas pequenas, que dura até meados de Dezembro (acho que já vos falei disto…).
Quanto a novidades, só as do contínuo avanço das obras, às vezes com uns “soluços”, mas decorrendo ao ritmo possível. Envio algumas fotos para acompanharem a evolução. De resto, é a entrega diária às simples e repetitivas tarefas que a missão nos coloca agora… todos os passos são necessários para a missão avançar… até os que parecem mais pequenos e chatos, até os que mais custam a dar! Vamos a eles! E os vossos passos daí também são imprescindíveis… as vossas orações dão-nos coragem e o vosso interesse e preocupação, força… é por isso que ESTAMOS JUNTOS!

Tchauééééé! Boa semana*

Vera*
2006-11-08 (terreno e estado das obras)...
Bairro do Uquende (aldeia)...
Cuca - fazendeiro do Gungo (e o maracuja verde)...
transporte de animais no taxi do Gungo!!

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Confiram!

Confiram:

http://omensageiro.blog.pt/932255/
Mando notícias mais no final da semana... e aguardo notícias daí!

Beijinhos pra todos*

Tchauééééé!

Vera*