segunda-feira, 26 de março de 2007

A Cantina da Missão

Não, não temos um espaço de refeições a funcionar no Gungo… Nestas paragens chama-se “cantina” a um espaço de venda de produtos, como aí temos uma mercearia ou pequena loja. A Cantina da Missão do Gungo já funciona há uns meses e tem vindo a crescer. Os primeiros produtos vendidos foram as ofertas de material escolar que recebemos em Portugal. O valor atribuído a cada produto é simbólico, mas é muito importante que estas ofertas generosas de Portugal não sejam simplesmente dadas. Podem estar a ficar ofendidas as pessoas que ofereceram gratuitamente, mas esperem só até lerem tudo. É verdade que as pessoas do Gungo possuem muito pouco para poder comprar material escolar… mas isso não faz com que não o tenham de comprar. Pelo contrário, se querem que os filhos possuam o material necessário para a escola, normalmente têm de o pagar a um preço exagerado, porque, devido ao mau estado da picada, os poucos artigos que lá chegam têm preços elevados. Os preços do material que temos vendido são semelhantes, ou até mais baixos, que os praticados na cidade do Sumbe. Assim, temos lápis, canetas, afias e borrachas a 10 kwanzas (aproximadamente € 0,10), cadernos de 20 a 100 kwanzas (para cadernos que em Portugal podem passar dos €3,00), e ainda algum material religioso, como terços e livros de orações. O importante não é dar um valor real aos materiais, mas sim ajudar as pessoas. Como? A soma acumulada com a venda destes materiais é aplicada na missão e também, assim, se tenta ajudar no processo de desenvolvimento da auto-sustentabilidade económica destas populações. Na nossa sociedade é raro recebermos alguma coisa de graça. É preciso trabalhar para alcançarmos os nossos objectivos… Muitas vezes cá me perguntam se as pessoas em Portugal trabalham nas lavras para terem alimento para a sua família. Repetidas vezes tenho explicado que não, a maioria das pessoas em Portugal compra os alimentos com o dinheiro que recebem do seu trabalho noutras áreas. É esse valor que partilhamos com este povo, o de termos como fruto do nosso trabalho uma mais valia para nós e a nossa família. Neste país têm-se vivido momentos difíceis com a guerra, que não permitiam que ninguém tivesse força ou recursos para produzir e vender bens. Em tempos de guerra, o primeiro objectivo é a sobrevivência. Agora com a paz de quatro anos, começa a ser possível sonhar em possuir algo mais que os alimentos para o dia que se vive. Já é possível sonhar, e trabalhar, para vender o excedente dos produtos conseguidos nas lavras e, assim, ter poder de compra para outros bens, também essenciais, como os ligados à educação ou saúde.
Agora, para além do material escolar, já temos na cantina uma pequena gama dos medicamentos que mais falta fazem a estas populações. Devido ao isolamento, não há Postos de Saúde do Estado no Gungo. Os promotores de saúde que por lá trabalham fazem-no por conta própria. Isso faz com que o preço dos medicamentos seja mais caro. A nossa ajuda vai no sentido da aplicação do dinheiro obtido na cantina na compra de medicamentos, que são vendidos a um preço que permita repor o valor dos medicamentos comprados e fazer um pequeno “pé-de-meia” para os gastos com a sua aquisição. Tudo isto, sonhando um dia poder reabrir os Postos de Saúde no Gungo, e ter também capacidade de pagar o salário do promotor que lá der consultas.
Eu tenho estado muito envolvida no funcionamento da cantina com a ajuda da mana Sónia, quando termina as actividades com os mais novos, e também dos catequistas locais, que vão assim estando em “formação”, preparando o dia em que a cantina será gerida pelas pessoas do Gungo. Não quero terminar sem deixar um grande twapandula (obrigada) a todos quantos, em Portugal, contribuíram generosamente para que este “cabouco” da missão esteja a ser aberto, com as dificuldades próprias, mas com muita vontade de que seja uma ajuda real para o Gungo. Continuemos! Upange uwa! (bom trabalho!)

ESTAMOS JUNTOS! Tchauééééé!

Vera Pereira

(artigo enviado a 6 de Fevereiro de 2007)

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