domingo, 6 de agosto de 2006

Os primeiros olhares…

Muito me falou quem já esteve em África do impacto ao sair do avião… mas nada disso! A temperatura amena e o sol tímido do tempo do cacimbo não me fizeram adivinhar se o avião tinha mesmo aterrado em Angola. Mas tudo o que se encontra em Luanda depois, e para o qual não existem palavras que na totalidade o descrevam, nos revela as grandes diferenças existentes entre este e o nosso país. A capital entra pelos nossos olhos caótica, suja, desequilibrada… cidade de extremos!
A minha primeira sensação foi a de estar a entrar pelas fotografias e filmes que o meu pai levou destas ruas em 1996, quando por cá esteve a trabalhar. E depois encontrar os bairros e locais de que tanto ouvi falar, porque toda a minha família viveu em Luanda antes do 25 de Abril de 1974.
Mas eu achei Luanda tão extrema que acho que nem senti! Surpresa e admiração foram surgindo ao longo do caminho até ao Sumbe, a nossa diocese angolana. Pelo caminho, a terra vermelha, os embondeiros, os macacos, as paisagens… tudo novo! É difícil acreditar que estou mesmo em África! E finalmente “Bem vindo à cidade do Sumbe”. O Sumbe é formado por casas e prédios junto ao mar e pelas casas simples de barro que enchem os montes circundantes onde habitam os refugiados do tempo da guerra que se foram fixando. Que linda esta cidade!... As diferenças são muitas em relação ao que em Portugal temos como referência de cidade: a organização, as estradas, o trânsito… Mas é assim o Sumbe!
Visitámos as irmãs com quem temos convivido durante estes anos e recebemos a chave da casa onde habitaram e que será a casa provisória até construirmos “A nossa casa”. Desde o primeiro momento, a simplicidade da oferta, o espaço deixado livre pelas irmãs, que agora habitam na Pedra Um. Um apartamento num prédio em que não temos água canalizada nem luz. O aprender a utilizar a água que temos disponível em bacias na cozinha e na casa de banho e a utilizar só a luz de velas e lanternas. Essencialmente, compreender que as provações não são motivo para querer voltar atrás. Pelo contrário! Aumentam a disponibilidade ao serviço d’Aquele que nos chamou para cá. Os “obrigados” de toda a comunidade cristã que celebra na Sé do Sumbe, da qual se vê o mar por trás do altar, lembram-nos que a missão não é nossa… Que somos apenas os felizes instrumentos de Deus para chegar ao povo do Gungo e, no próximo fim de semana, lá estaremos com eles!
Estamos todos ansiosos. Nós por ir… Eles para nos acolher…

Vera *

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